Mapa de anatomia: o Olho
O Olho é uma espécie de globo,
é um pequeno planeta
com pinturas do lado de fora.
Muitas pinturas:
azuis, verdes, amarelas.
É um globo brilhante:
parece de cristal,
é como um aquário com plantas
finamente desenhadas: algas, sargaços,
miniaturas marinhas, areias, rochas, naufrágios e peixes de ouro.
Mas por dentro há outras pinturas,
que não se vêem:
umas são imagens do mundo,
outras são inventadas.
O Olho é um teatro por dentro.
E às vezes, sejam atores, sejam cenas,
e às vezes, sejam imagens, sejam ausências,
formam, no Olho, lágrimas.
Cecília Meireles
sexta-feira, 26 de março de 2010
domingo, 14 de março de 2010
O ATOR - Plínio Marcos
Conheci esse texto há 5 anos quando passava pela Av. Rio Branco e vi que tinha uma pequena exposição sobre o Plínio Marcos no Teatro Glauce Rocha. Dei uma olhada e peguei um programa.(tenho mania de guardar programas de peças, exposições... mania chata que entope minhas gavetas!)
No programa tinha esse texto: O ATOR
Eu li e chorei, chorei. Fiquei muito emocionada porque estava vivendo um período conturbado no Teatro, um pouco revoltado até. Estava em crise.
Foi ai que fui parar na poesia e senti-me livre das amarras que estava sentindo no Teatro. A poesia me ofereceu uma liberdade tão grande que virei até poeta. Sou uma trabalhadora da poesia e serei para sempre militante desse movimento. Agradeço muito por tudo que conheci e vivi através dela. As pessoas, as palavras, as possibilidades, a dureza e a beleza da vida.
Hoje estou retornando ao Teatro de verdade. Na poesia eu interpreto, danço, faço performances... uso minha atriz. Mas agora estou falando de Teatro, Teatro mesmo. Um reencontro especial e difícil, pois novamente estou tendo que me enfrentar de forma absoluta. Agora encontrei o Teatro que tanto procurei, desejei. Aquele ímpeto primário de quando iniciei meus estudos, intenso, profundo, livre de sistemas.... tantos desejos... tanta força. Sei lá. Estou no caminho. E sei que é o certo. Sinto-me perdida ainda.
Bom, nesse exato momento, arrumando minhas coisas, encontrei o programa da Exposição do Plínio Marcos... e o texto O ATOR. Veio a calhar. Momento oportuno para as minhas reflexões e minha fase de transição. De tempos em tempos aparecem esses tempos nublados, confusos, de trocas, mortes e renascimentos.
O ATOR
Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do cotidiano
tornem um homem duro ou cínico
a ponto de fazê-lo indiferente às desgraças e alegrias coletivas,
sempre haverá no seu coração,
por minúsculo que seja, um recanto suave onde ele guarda
ecos dos sons de algum momento de amor já vivido.
Bendito seja que souber dirigir-se
a esse homem que se deixou endurecer, de forma a atingi-lo
no pequeno porém macio núcleo da sua sensibilidade.
E por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotesca forma
de autodestruição a que por desencanto ou medo se sujeita.
E por ai inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação.
O ator tem esse dom.
Ele tem o talento de atingir as pessoas
nos pontos onde não existem defesas.
O ator, não o autor ou o diretor, tem esse dom.
Por isso o artista do teatro é o ator.
O público vai ao teatro por causa dele.
O autor e o diretor só são bons na medida
em que dão margem a grandes interpretações.
Mas o ator deve se conscientizar de que é um Cristo da humanidade:
seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva.
Ele tem que saber que, para ser um ator de verdade,
vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios.
É preciso coragem, muita humildade e, sobretudo,
um transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria
personalidade em favor de seus personagens
com a única intenção de fazer a sociedade entender que
o ser humano não tem instintos e sensibilidades padronizados,
como pretendem os hipócritas, com seus hipócritas códigos de ética.
Amo o ator nas suas alucinantes
variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão.
Amo o ator no desespero de sua insegurança,
quando ele, como viajor solitário,
sem bússola da fé ou da ideologia,
é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente,
procurando, no seu mais secreto íntimo,
afinidades com as distorções de caráter do seu personagem.
Amo o ator mas ainda quando,
depois de tantos martírios, surge no palco com segurança,
oferecendo seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade
para expor, sem nenhuma reserva,
toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado.
Amo o ator por se emprestar inteiro
Para expor os aleijões da alma humana,
Na tentativa de que o público se compreenda, se fortaleça
e caminhe no rumo de um mundo melhor,
a ser construído pela harmonia e pelo amor.
Amo o ator consciente
de que a recompensa possível não é o dinheiro, nem o aplauso.
Mas a esperança de poder rir todos os risos
E chorar todos os prantos.
Amo o ator consciente de que no palco,
Cada palavra e cada gesto são efêmeros,
pois nada registra nem documenta sua grandeza.
Amo o ator e por ele amo o teatro.
Sei que é por ele que o teatro é eterno
e jamais será superado por qualquer arte
que se valha da técnica mecânica.
Plínio Marcos
No programa tinha esse texto: O ATOR
Eu li e chorei, chorei. Fiquei muito emocionada porque estava vivendo um período conturbado no Teatro, um pouco revoltado até. Estava em crise.
Foi ai que fui parar na poesia e senti-me livre das amarras que estava sentindo no Teatro. A poesia me ofereceu uma liberdade tão grande que virei até poeta. Sou uma trabalhadora da poesia e serei para sempre militante desse movimento. Agradeço muito por tudo que conheci e vivi através dela. As pessoas, as palavras, as possibilidades, a dureza e a beleza da vida.
Hoje estou retornando ao Teatro de verdade. Na poesia eu interpreto, danço, faço performances... uso minha atriz. Mas agora estou falando de Teatro, Teatro mesmo. Um reencontro especial e difícil, pois novamente estou tendo que me enfrentar de forma absoluta. Agora encontrei o Teatro que tanto procurei, desejei. Aquele ímpeto primário de quando iniciei meus estudos, intenso, profundo, livre de sistemas.... tantos desejos... tanta força. Sei lá. Estou no caminho. E sei que é o certo. Sinto-me perdida ainda.
Bom, nesse exato momento, arrumando minhas coisas, encontrei o programa da Exposição do Plínio Marcos... e o texto O ATOR. Veio a calhar. Momento oportuno para as minhas reflexões e minha fase de transição. De tempos em tempos aparecem esses tempos nublados, confusos, de trocas, mortes e renascimentos.
O ATOR
Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do cotidiano
tornem um homem duro ou cínico
a ponto de fazê-lo indiferente às desgraças e alegrias coletivas,
sempre haverá no seu coração,
por minúsculo que seja, um recanto suave onde ele guarda
ecos dos sons de algum momento de amor já vivido.
Bendito seja que souber dirigir-se
a esse homem que se deixou endurecer, de forma a atingi-lo
no pequeno porém macio núcleo da sua sensibilidade.
E por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotesca forma
de autodestruição a que por desencanto ou medo se sujeita.
E por ai inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação.
O ator tem esse dom.
Ele tem o talento de atingir as pessoas
nos pontos onde não existem defesas.
O ator, não o autor ou o diretor, tem esse dom.
Por isso o artista do teatro é o ator.
O público vai ao teatro por causa dele.
O autor e o diretor só são bons na medida
em que dão margem a grandes interpretações.
Mas o ator deve se conscientizar de que é um Cristo da humanidade:
seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva.
Ele tem que saber que, para ser um ator de verdade,
vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios.
É preciso coragem, muita humildade e, sobretudo,
um transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria
personalidade em favor de seus personagens
com a única intenção de fazer a sociedade entender que
o ser humano não tem instintos e sensibilidades padronizados,
como pretendem os hipócritas, com seus hipócritas códigos de ética.
Amo o ator nas suas alucinantes
variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão.
Amo o ator no desespero de sua insegurança,
quando ele, como viajor solitário,
sem bússola da fé ou da ideologia,
é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente,
procurando, no seu mais secreto íntimo,
afinidades com as distorções de caráter do seu personagem.
Amo o ator mas ainda quando,
depois de tantos martírios, surge no palco com segurança,
oferecendo seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade
para expor, sem nenhuma reserva,
toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado.
Amo o ator por se emprestar inteiro
Para expor os aleijões da alma humana,
Na tentativa de que o público se compreenda, se fortaleça
e caminhe no rumo de um mundo melhor,
a ser construído pela harmonia e pelo amor.
Amo o ator consciente
de que a recompensa possível não é o dinheiro, nem o aplauso.
Mas a esperança de poder rir todos os risos
E chorar todos os prantos.
Amo o ator consciente de que no palco,
Cada palavra e cada gesto são efêmeros,
pois nada registra nem documenta sua grandeza.
Amo o ator e por ele amo o teatro.
Sei que é por ele que o teatro é eterno
e jamais será superado por qualquer arte
que se valha da técnica mecânica.
Plínio Marcos
DIA DA POESIA
HOJE É DIA NACIONAL DA POESIA
E EU AGRADEÇO MUITO POR VIVER A POESIA!!!
VIVAAAAAA!
Agradeço a todos os meus companheiros, poetas ou não, que compartilham a poesia da vida!
E EU AGRADEÇO MUITO POR VIVER A POESIA!!!
VIVAAAAAA!
Agradeço a todos os meus companheiros, poetas ou não, que compartilham a poesia da vida!
o amor me comeu
Os Três Mal-Amados
fala de Joaquim
(trechos)
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato.
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço.
O amor comeu meus cartões da visita. O amor veio e comeu todos os papéis
onde eu escrevera meu nome.
(...)
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas.
O amor comeu metros e metros de gravatas.
O amor comeu a medida dos meus ternos, o número dos meus sapatos,
o tamanho de meus chapéus.
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
(...)
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas.
Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas meus raios-X.
Comeu meus testes mentais,meus exames de urina.
(...)
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia.
Comeu em meus livros de prosa as citações em verso.
Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos
(...)
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite.
Meu inverno e meu verão. Comeu meu silencio, minha dor de cabeça,
meu medo da morte.
João Cabral de Melo Neto
fala de Joaquim
(trechos)
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato.
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço.
O amor comeu meus cartões da visita. O amor veio e comeu todos os papéis
onde eu escrevera meu nome.
(...)
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas.
O amor comeu metros e metros de gravatas.
O amor comeu a medida dos meus ternos, o número dos meus sapatos,
o tamanho de meus chapéus.
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
(...)
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas.
Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas meus raios-X.
Comeu meus testes mentais,meus exames de urina.
(...)
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia.
Comeu em meus livros de prosa as citações em verso.
Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos
(...)
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite.
Meu inverno e meu verão. Comeu meu silencio, minha dor de cabeça,
meu medo da morte.
João Cabral de Melo Neto
sexta-feira, 12 de março de 2010
Eu me exponho.
Com os pés no chão caminho em exposição
Estou dando a cara a tapa e não tenho medo de apanhar
Partes de mim estão morrendo e mais tarde renascerão novas
Transições da minha alma gritam em desespero
Medo
Coração e razão sem sintonia
Meu corpo está divido
Minhas emoções me confundem
Minha força e meu escudo estão me enterrando dentro do meu coração.
A menina mimada que não sabe perder descobre agora que é orgulhosa.
Estou dando a cara a tapa e não tenho medo de apanhar
Partes de mim estão morrendo e mais tarde renascerão novas
Transições da minha alma gritam em desespero
Medo
Coração e razão sem sintonia
Meu corpo está divido
Minhas emoções me confundem
Minha força e meu escudo estão me enterrando dentro do meu coração.
A menina mimada que não sabe perder descobre agora que é orgulhosa.
quinta-feira, 11 de março de 2010
palavras do email
Hoje recebi um email da Thereza Christina Rocque da Motta.
Assunto: Livro é um ser vivo.
E preciso fazer um Ctrl C, Ctrl V de uma citação de Anaïs Nin, que ela usa no texto: "Lemos aquilo que precisamos. Há quase uma força obscura que nos guia para determinado livro".
E termina o email:
"Lemos o que precisamos". Nem mais, nem menos. Se não sabe o que ler, espere: o livro o encontrará.
Eu adorei e registrei.
Valeu, Thereza!!!
Assunto: Livro é um ser vivo.
E preciso fazer um Ctrl C, Ctrl V de uma citação de Anaïs Nin, que ela usa no texto: "Lemos aquilo que precisamos. Há quase uma força obscura que nos guia para determinado livro".
E termina o email:
"Lemos o que precisamos". Nem mais, nem menos. Se não sabe o que ler, espere: o livro o encontrará.
Eu adorei e registrei.
Valeu, Thereza!!!
sexta-feira, 5 de março de 2010
palavras do Facebook.
o assanho da alma que se agita
quando a razão aflita se depara com as fronteiras fechadas do desentendimento
só a passagem secreta
nas cercas de arame farpado
só as beiras dos precipícios que se precipitam no caminho cheio de emboscadas
só a passagem de cordas bambas no abismo
nos levam a libertação para a inóspita região do amor e da felicidade
do meu amigo Marco Lyrio
quando a razão aflita se depara com as fronteiras fechadas do desentendimento
só a passagem secreta
nas cercas de arame farpado
só as beiras dos precipícios que se precipitam no caminho cheio de emboscadas
só a passagem de cordas bambas no abismo
nos levam a libertação para a inóspita região do amor e da felicidade
do meu amigo Marco Lyrio
verdades e mentiras
"Se nada se pode provar, por mais verdadeiro, então a verdade do fato vale tanto quanto a versão mais mentirosa e improvável desse mesmo fato. Em vez de perder tempo tentando descobrir verdades não provadas, podemos usar a imaginação para inventar mentiras possíveis."
Augusto Boal
"O suicida com medo da morte"
Augusto Boal
"O suicida com medo da morte"
Subscrever:
Mensagens (Atom)